Ideias Incríveis!
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25 de set. de 2012
23 de set. de 2012
20 de set. de 2012
1 de set. de 2012
LENDAS
Um conto de Graça Aranha
Millkau nesse tempo cismava, enquanto o sono não o arrebatava para o esquecimento. Tinha saboreado as lendas ouvidas aos tropeiros e parecia-lhe ter arregaçado o véu que cobria a alma daqueles homens, e desfrutado deliciosamente as paisagens distintas de cada espírito e os panoramas longínquos que foram os quadros da infância de cada povo gerador. Nas lendas alemãs Milkau via passar o Reno, como um grande rio sagrado, que foi o centro e o nervo do mundo germânico, todo cheio de encantamento, e cujas louras ninfas eram as espumas das próprias águas. Ele via os quadros recuados no tempo e os quadros novos da época medieval, bruxas, cavaleiros andantes e castelos. Todo o idealismo da raça estava ali, e o que nascera nas águas do rio, criando fantasias e mitos, mantinha-se inalterável, os novos deuses latinos, penetrando no seu espírito, transmudaram-se em divindades bárbaras, as suas santas eram aquelas mesmas fadas do Reno e os santos velhos deuses sombrios e batalhadores... Na lenda do curupira outro mundo se descortinava, que era toda a alma do tropeiro maranhense. Ali estasvam a mata tenebrosa, as forças eternas da natureza que assombram e cujo símbolo era essa divindade errante que anima as árvores, que sacode do torpor tropical as feras ou que protege a natureza, intimando o homem, seu perpétuo inimigo. Ela espanta, vinga-se e beneficia, transveste-se em mil figuras, em criança maligna, que é a sua encarnação preferida, em animal ou vegetal, conforme a astúcia ou a força o exigem... Milkau sentia naquelas lendas o encontro dos vários aspectos dos feitiços e cada um traduzia os instintos, os desejos, os hábitos diferentes dos homens,
Mundo
encantado e misterioso, esse das almas dos povos! O verdadeiro
filósofo, pensava Milkau, será aquele que conhecer as origens, não só da
história ou da sociedade, mas de uma alma isolada, aquele que tiver o
segredo de ponderar os espíritos, de desvendar nas células cerebrais as
remotas sensações vitais dos povos e que possir a intuição para
distinguir na inteligência de um homem a dosagem perfeita do estranho
precipitado da treva com a pureza, do ódio ingênuo de uma raça com o
amor orgânico de outra.. E Milkau ia lentamente adormecendo, feliz e
sossegado naquela benfazeja
noite
tropical, no meio de homens primitivos, no seio de uma nova terra suave
e forte, e o que era cisma da vigília se ia pouco a pouco transformando
no puro sonho em que ele entrevia num horizonte iluminado, surgindo
docemente, uma nova raça, que seria a incógnita feliz do amor de todas
as outras, que repovoaria o mundo e sobre a qual se fundaria a cidade
aberta e universal, onde a luz se não apague, a ecravidão se não
conheça, onde a vida fácil, risonha, perfumada, seja um perpétuo
deslumbramento de liberdade e de amor.
Millkau nesse tempo cismava, enquanto o sono não o arrebatava para o esquecimento. Tinha saboreado as lendas ouvidas aos tropeiros e parecia-lhe ter arregaçado o véu que cobria a alma daqueles homens, e desfrutado deliciosamente as paisagens distintas de cada espírito e os panoramas longínquos que foram os quadros da infância de cada povo gerador. Nas lendas alemãs Milkau via passar o Reno, como um grande rio sagrado, que foi o centro e o nervo do mundo germânico, todo cheio de encantamento, e cujas louras ninfas eram as espumas das próprias águas. Ele via os quadros recuados no tempo e os quadros novos da época medieval, bruxas, cavaleiros andantes e castelos. Todo o idealismo da raça estava ali, e o que nascera nas águas do rio, criando fantasias e mitos, mantinha-se inalterável, os novos deuses latinos, penetrando no seu espírito, transmudaram-se em divindades bárbaras, as suas santas eram aquelas mesmas fadas do Reno e os santos velhos deuses sombrios e batalhadores... Na lenda do curupira outro mundo se descortinava, que era toda a alma do tropeiro maranhense. Ali estasvam a mata tenebrosa, as forças eternas da natureza que assombram e cujo símbolo era essa divindade errante que anima as árvores, que sacode do torpor tropical as feras ou que protege a natureza, intimando o homem, seu perpétuo inimigo. Ela espanta, vinga-se e beneficia, transveste-se em mil figuras, em criança maligna, que é a sua encarnação preferida, em animal ou vegetal, conforme a astúcia ou a força o exigem... Milkau sentia naquelas lendas o encontro dos vários aspectos dos feitiços e cada um traduzia os instintos, os desejos, os hábitos diferentes dos homens,
Graça Aranha
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