O Tesouro da Gruta do Corta Rabicho é uma delas...
Jandiro, um mocetão garboso que era só valentia, não largava do pau-de-fogo, pois quem andava pelo estradão sobre um arreio, só tendo os bois como companhia, podia topar com ladrões e por isso tinha de andar prevenido. Um dia Jandiro encilhou a besta e foi arrastar as asas em Anhembi. A noite ficou mais pesada e a peonada ficou preocupada .
Afinal, já era hora do terror fazer tremer o homem e nada de Jandiro.
O boiadeiro Antonio Miciano chamou os tangerinos para ir à sua procura, quando ele chegou, sem a besta.
- Cadê a montaria? - Quis saber Tiburcio. E Jandiro explicou:
- Eu estava perto do pau d' alho, quando vi uma cabeça de fogo vagando pelo areião. Era o Cumacanga, cabeça de fogo que vaga pelas estradas à noite. È a alma de um ladrão que em vida escondeu um tesouro e ele precisa indicar onde o tesouro está, para descansar em paz.
A cabeça de fogo se aproximou e eu fustiguei a besta, que refugou e me jogou de encontro a uma cerca de
arame farpado. O Cumacanga clareava, enquanto eu tentava me soltar do arame. Livre, agradeci e ele contou que escondeu muito ouro, produto de roubos, na Gruta do Corta Rabicho, lá na Fazenda do Antonio Domingues.
No dia seguinte o assunto na fazenda era o tal tesouro.
Na boca da noite, no meio de grande barulho, portanto lampiões, enxadas e pás, peões e suas mulheres e crianças se dirigiram até a Gruta do Corta Rabicho, em busca do tesouro.
Quando chegaram perto do Ribeirão Corta Rabicho, eles foram tomados de grande pavor.
Uma explosão então, vinda da gruta, iluminou a estrada com o clarão de uma bola de fogo. Era a Mãe do Ouro que protegia o tesouro da gruta.
Foi um" Deus nos acuda ", um corre-corre danado. Chamuscados pelas chamas, mas são e salvos, os cablocos voltaram para casa, como um tiro, sem olhar para trás.
Totó Luiz, que não podia ver defunto, sem chorar, comentou : - Isso acotenceu para vocês aprenderem a não desenterrar coisas do esquecimento.
Tempos depois, uma estrela cadente caiu sobre a gruta, com grande estrondo, soterrando o tesouro para sempre. Terminado o relato, dona Victoria se calou, triste com a lembrança de Jandiro e dessa aventura, Jandiro era seu marido...
Ademar Roberto Silva ( do livro Das Barrancas aos Paralelepípedos )
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