Avivou na memória de Aldruda Hilária um episódio que aconteceu em certo dia do seu passado. Aldruda estudava na escola Major Prado no período matutino.
Acordou naquela manhã de sexta-feira sentindo-se bonita, cheia de vida... Espreguiçou-se, esticou-se na cama e foi escorregando lentamente por entre os lençois em direção ao chão. Então algo sob a cama chamou a atenção da moça.
Viu um livro grande e lindo de capa preta, com letras coloridas na capa. Apanhou o livro, olhou e achou magnifíca aquela aparência brilhante da capa. Sem pensar nada, colocou o livro junto
ao seu material escolar. Claro que aquele livro iria acompanhá-la até a escola. Afinal estava lá esquecido, abandonado sob a cama. Por quê não chegar na escola com aquele livrão, sentindo-se poderosa?
Aldruda tinha uma situação de muito apreço junto aos seus professores e amigas. Afinal elas haviam lido juntas Monteiro Lobato e, além de terem lido, tiveram de fazer, usando os mais diversos tipos de materiais, os personagens da história. O personagem que caiu para Aldruda, foi o Visconde de Sabugosa, o qual deu o maior trabalho à jovem.
E, numa folga, ela lembrou do livro que havia achado sob a cama. Folheu ele rapidamente, achando até bom, pois não habia ilustrações. Inda bem, lembra ela hoje!...
Cassandra Rios era considerada escritora maldita na época, mas Aldruda não sabia disso. O título do dito cujo livro era Eu e o Presidente...Nossa, pensou ela. Devia ser um livro muito bom e importante, pensou. Já haviam estudado política e sabia de cor todos que estavam no governo...o atual presidente, os ministros, senadores, deputados e outras autoridades da época.
Algumas amigas de Aldruda e que estudavam juntas há cerca de três anos, perceberam o tal livro e, sentando-se na escada do pátio, começaram a folheá-lo. Elas, como Aldruda, acharam o livro bonito mas tinha muitas páginas e seria cansativo ler sem ilustrações. Quando a inspetora, dona Etelvina, passou e viu as meninas com o livro, não se preocupou ou fez vistas grossas, porque afinal que mal havia em estar folheando um livro? Ela bateu o sino e Aldruda e suas amigas fecharam o livro e foram para a classe.
Na hora do recreio, Aldruda ficou na classe para ler o livro, pois a curiosidade era maior que ela. Abriu ele aleatoriamente sem se preocupar em que página iria cair, e começou sua leitura...
A jovem começou a sentir suas orelhas queimarem...o rosto ficou tão corado, que ela podia sentir o calor. Não acreditava naquilo que estava lendo. Os pensamentos embaralhavam na sua cabeça...Seria aquilo verdade ou Cassandra era uma louca? Só podia ser, pensou a jovem. Aconteceu um branco na sua memória. Esqueceu o que lera. Depois voltava lembrar tudo. Trêmula e com medo, ela só pensava em esconder o livro. Mas, onde? Tirou sua blusa de frio pois afinal já estava com calor...e muito calor! Embrulhou o livro na blusa e escondeu o pacote debaixo da carteira. Tomara que ninguém pergunte do livro, pensava, envergonhada. Foi para o pátio sentindo uma sensação horrível, como se tivesse feito algo muito errado. Não via a hora de ir embora e colocar o maldito livro no mesmo lugar que o tinha achado.
Percebeu que havia escapado do perigo, do ridículo e da vergonha, pois se dona Etelvina tivesse chegado mais perto e visto o livro, Aldruda certamente estaria perdida.
Chegando em casa e, mesmo após devolver o livro ao seu obscuro lugar, Aldruda ainda sentia arrepios só de pensar no tal episódio e nas suas possíveis e horríveis consequências...
Obs: A polêmica escritora faleceu em 2002 aos 70 anos de idade.
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