Ideias Incríveis!

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23 de abr. de 2012

Santo Resmo


  Em Aparecida do Sul havia um italiano de nome Resmo. Homem pobre que era, trabalhava como catador de papel, e quem dele precisasse, estava sempre pronto a servir. Por esse motivo, todos o consideravam como homem íntegro e bom. Um dia, seja verdade isso ou não, esse pobre homem veio a falecer. Segundo os Aparecidenses testemunham até os dias atuais, na hora da morte, os sinos da igreja matriz, não sendo tocados por ninguém, puseram-se a dobrar. O povo considerou o fato um milagre e começou a afirmar que esse tal Resmo se fizera santo. Correram as pessoas em massa à casa onde estava o morto, e levaram o corpo à igreja matriz. Para lá, pouco depois, encaminharam-se coxos, aleijados, cegos e outros infelizes...E para a igreja se dirigiam acreditando na possibilidade de se curarem, apenas com o simples ato de tocar aquele corpo.
  Estavam em Aparecida do Sul, em meio a essa correria e tumulto do povo, três rapazes. Um deles chamava-se Martini, o outro Julio e o terceiro Ozualdo. As habilidades dos jovens consistiam em fazer a imitação uns dos outros, assim como podiam imitar qualquer outro homem. E com isso divertiam os espectadores. Nenhum deles estivera antes em Aparecida do Sul e ficaram curiosos vendo todo mundo correndo. Ao saberem da razão do corre-corre à igreja, tiveram vontade de também lá irem, para constatar o que realmente acontecia. E Ozualdo disse:



- Queremos ir ver esse santo, mas por mim, não entendo como poderemos chegar lá. A praça está cheia de policiais armados, para evitar maiores tumultos. Além do mais, a igreja está de tal modo lotada de gente, que quase mais ninguém consegue nela entrar.
Julio, desejando muito assistir aquilo, disse:
- Não fiquem preocupados com nada, eu estou certo de que acharei o modo de chegar até onde está o corpo do santo.
- Como? - Perguntou Ozualdo. Julio explicou :
- Direi de que modo: vou fingir que sou aleijado, você irá de um lado e o Martini do outro, como se me amparassem. Vocês me darão apoio, como quem deseja levar-me até o altar, para que o santo me cure. Tanto a Martini quanto a Ozualdo a idéia foi agradável. Foram para um recanto solitário onde Julio torceu de propósito, como contorcionista que era, as próprias mãos, os dedos, os braços e as pernas. Ah, ia me esquecendo: entortou a boca também, os olhos e todo o rosto. De tal jeito o fez , que ficou transmudado num espetáculo doloroso de ser visto. Julio foi carregado por Ozualdo e Martini, como o combinado, na direção da igreja. Diante dos olhos de todos, demonstrando profunda pena pelo companheiro, rogavam a cada pessoa à frente, que se lhes abrisse caminho. O pedido era sempre atendido, fazendo nascer de todos os lados exclamações solícitas de "abram caminho!... abram caminho!"


Chegaram os três ao local onde se encontrava o corpo do pobre Resmo, e por lá se achavam gentis homens que levaram Julio, pondo-o em cima do corpo que acreditavam ser milagroso, para que recebesse a benesse do retorno à saúde perfeita. Todo mundo ficou atento. Julio, depois de ficar algum tempo onde o tinham posto, começou a fingir que ia conseguindo estender um dos dedos, depois a mão e em seguida o braço, e assim fazendo, acabou por esticar todo o corpo. Vendo isto, o povo fez tão grande zoeira, louvando o já agora santo Resmo, que no momento, mesmo se houvesse trovões, não seriam ali ouvidos. Casualmente, estava na cidade um rapaz que conhecia muito bem a qualidade imitativa de Julio. E ao vê-lo já de pé, como que tendo recebido um milagre, no mesmo instante pôs-se a rir, dizendo:
- Quem é que, vendo-o chegar à igreja, não creria que ele realmente fosse aleijado? Certas pessoas escutaram estas palavras e indagaram:
- Que diz? Esse homem, então, não era aleijado? A isto retrucou o rapaz:
- Não! Aquele sujeito sempre foi ereto como qualquer um de nós, contudo, sabe melhor do que nenhum, como os senhores puderam ver, realizar brincadeiras desse tipo. O povo não precisou mais de nenhum esclarecimento e puseram-se a gritar:
- Prendam este herege que quis zombar de santo Resmo e também de nós! Os aparecidenses apoderaram-se de Julio, arrancaram-no de onde estava, puxaram-lhe os cabelos, fizeram em trapos as suas roupas e começaram a dar-lhe socos e pontapés. Pareceu mesmo que nenhum homem, de quantos ali estavam, deixou de vir à sua presença, para lhe aplicar murros e dar-lhe chutes nas costelas. O pobre Julio urrava de desespero e dor.
-Tenham piedade! Tenham piedade!...
Mas Santo Resmo não se manifestou...

                                          Este conto está disponível também no site Net Saber

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