Ideias Incríveis!

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3 de jun. de 2012

Aconteceu em Jaú - As Mortas-vivas

 

Ao ouvir uma nota fúnebre no rádio hoje, veio à minha lembrança um certo caso há muito acontecido, e por isso achei agradável contá-lo a vocês. Na cidade de Jurupapo morava uma senhora de nome Filomena Amadeu, ou Filó, para os íntimos. Esta era um senhora alegre, agradável, e que tinha como prazer maior participar de excursões junto com suas amigas. As excursões quase sempre eram para Aparecida do Sul, já que Filó e suas amigas eram muito religiosas. As senhoras de Jurupapo tinham-lhe muito afeto e apreciavam estar em sua companhia. 
  Ora, sucedeu certo dia que Filó saiu com suas amigas para mais uma viagem a Aparecida do Sul. Sua filha Felipa, também iria excursionar, só que para uma cidade próxima de Jurupapo, onde havia uma linda e aprazível praia. Ela assistiu divertida a partida da mãe e das outras beatas, e logo também embarcou com os amigos para se divertir na cidade de Trexistoim, onde ficava a praia tão decantada. A pequena e refrescante praiazinha ficava num lugar quase deserto, de encantadora vegetação, e no calor do verão não havia local mais delicioso de se estar. 
  Nesta altura da história, é de bom alvitre informar que Felipa tinha um namorado, e que tal trabalhava como agente funerário. E por causa disso não pôde acompanhar a namorada no passeio. Eugeninho, ou Geninho, como mais o chamavam, era um homem mais adiantado em seu ofício do que esclarecido em 
outros assuntos... 
  Chegando o cair da tarde, o gentil, porém atoleimado Geninho, acabou ouvindo pela rádio local que ocorrera um acidente com um onibus de fiéis que estava voltando de Aparecido do Sul. Ah, que desgraça desse arruinado mundo..., pensou o rapaz. Saindo de casa apressadamente, ele foi revelar seu propósito ao marido de Filó, que embora choroso com a notícia que acabara de receber do futuro genro, concordou em deixar este arrumar tudo para a chegada do corpo de Filó. Geninho também tratou de avisar parentes e amigos. Em pouco tempo começou o aparecimento de um grande número de pessoas à casa da Filó, já dada por Geninho como certamente falecida no acidente. 
  Mas o estabanado moço desconhecia que não havia acontecido nada com o onibus aonde viajava Filó e as amigas. O motorista do onibus estava com o rádio ligado e desta feita foi ele quem ouviu a notícia sobre outro acidente, envolvendo jovens que voltavam da praia de Trexistoim. Inocentemente ele transmitiu a triste nota aos passageiros, e Filó, que sabia  a filha  ido para aquela praia, quase teve um chilique, pensando que por certo o acidente teria sido com sua filha. Suas amigas, tentando consolá-la, começaram a rezar várias ladainhas, rogando aos céus o bem-estar da Felipa. 
  Filó, ora em tristonho silêncio, ora em estrondoso berreiro, mal via a hora de chegar em casa. Porém, como as coincidências mais estranhas teimam em ocorrer, Felipa, que estava sã e salva, sem ter sofrido nenhum acidente, também ouviu pelo rádio do carro dos amigos sobre o terrível acidente com o onibus 
de fiéis. 
  A moça, em desespero, temendo pela sorte de sua mãe, não via também a hora de chegar a Jurupapo para se inteirar da proporção do sinistro. Por esses fatos, podemos aquilatar o quanto cada uma estava sofrendo. Mãe e filha, mesmo distantes, pareciam se unir através das preces, trazendo cada uma o próprio coração nas mãos, temendo pelo pior. 
  Enfim a inconsolável Filó chegou em casa e, mesmo amparada pelas amigas, entrou em pânico e começou a dar sofridos gritos pela rua, vendo a multidão em frente sua casa. 
  Do outro lado da rua, uma preocupada Felipa também descia do carro atabalhoadamente, e vendo a multidão, ameaçou um desmaio, e não fosse as amigas, iria ao chão, certamente. A mãe pensava a filha morta, e esta, por sua vez, pensava a mãe morta. Ah, que desgraça desse arruinado mundo!
  Os vizinhos e parentes, escutando a gritaria desesperada na rua, já não estavam entendendo mais nada. Afinal o funeral era de quem? Quem viu Filó, achou ser da Felipa, e quem via a moça achou que era da Filó... 
  Bem, a estas alturas, nem eu, que vos transmito tal narrativa, estou entendendo mais nada...Os vizinhos, tantos homens, quanto as mulheres, entendendo a confusão, jogaram a culpa no Geninho, mas assim que mãe e filha se deram de frente aos prantos, a culpa foi colocada sobre o radialista. 
  Em breve tempo, a barulheira, agora já causada pela alegria, aumentou de tal modo, que toda a vizinhança acabou rumando para a casa de Filó. Cervejas foram abertas e uma sanfona, aparecida não se sabe da onde, alegrou o tumultuado ambiente, e as pessoas dançaram forró a noite toda em meio aos 
apetrechos da funerária, os quais, claro, o feliz Geninho nem se preocupara em retirar... E viva a vida! 


Observações: todos os nomes citados aqui, de pessoas ou lugares, são fictícios.

  FIM

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