Ideias Incríveis!

Ideias Incríveis!

Translate

27 de jul. de 2012

Aconteceu em Jaú: Hilarião e Pulguéria - Um romance escrito a giz

                                          O amor é eterno enquanto dura -  Vinícius de Morais

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente  considera-se adolescente jovens de 12 a 18 anos de idade. Se você já passou por essa fase, sabe muito bem quais são as transformações que acontecem nesse período,  seja no nosso corpo ou na nossa mente.
A novidade nessa idade é a descoberta do amor, pois  durante a adolescência  os desejos se despertam e a paixão torna-se avassaladora.  Tudo é muito intenso, forte e  "eterno" e assim aconteceu com Hilarião e Pulguéria. Se os muros da casa da Dona Frumência falassem muito poderia ser contado. Logo cedo Pulguéria já estava com os olhares no quintal de Hilarião. E ele, ao cair da tarde, sempre passeava pelo jardim nos fundos da casa e vez ou outra subia no muro muito agilmente, quando sabia que Dona Frumência não estava ali perto. Sentiam aquele  encantamento que o amor dá. E ela não perdia de vista Hilarião, para inspirar-lhe segurança e calma, e ficava muito contente.
Nessa circunstância ficaram por muito tempo, pois nenhum deles se arriscava a declarar-se ao outro o que sentia, ainda que ambos o desejassem. Assim, estavam inflamados pelo amor. Mas Pulguéria resolvera afastar o receio que os cercava. Fez um caderno tipo diário, com poesias de J. G. de Araújo Jorge, um dos poetas ícone dos apaixonados naquela época, com fotos de casais enamorados que saiam nas fotonovelas escritas por Janete Clair na série Amor, da Editora Vecchi, se bem me lembro...
A jovem, que estava com 14 anos mais ou menos, recortava com carinho as melhores cenas e colava junto com um beijo dado por ela mesma com seu melhor batom. Cartas de amor também eram escritas neste caderno. O caderno, quando pronto, foi entregue junto com uma rosa vermelha, ao amado (e pasmado) Hilarião.
E o famoso “namoro de portão” teve início, sob a  vigilância militar de pais e irmãs de Pulguéria. 
Aconteceu certo dia o que  é comum ocorrer às vezes. Nada que pudesse acarretar o fim do Planeta, mas para Pulguéria foi como a morte...Certa tarde Hilarião, passeando no seu quintal, olhou para o quintal da namorada. Este estava cheio de roupas íntimas secando ao sol, e ele, a título de brincadeira, começou a contar as peças do varal.   Pulguéria sai  para o quintal e, surpreendida e vexada  pelo ato de Hilarião, voltou correndo e chorando para dentro de casa. O céu se encheu depressa de nuvens negras...
Pouco depois,  na Avenida Frederico Ozanan, onde ficavam a casa dela e de Hilarião,  iria testemunhar uma guerra de ira adolescente.  Espumando de raiva por ter sua intimidade atingida, Pulguéria saiu e foi para o portão com um giz na mão  e escreveu em letras garrafais na lisa calçada  de cimento em frente a casa do rapaz: HILARIÃO XERETA  LADRÃO! – O ladrão era para dar rima, acho...
Ele, quando viu tal escrito, não se fez de rogado. Apanhando também um giz,  foi bem em frente da casa de Pulguéria e escreveu, com letras ainda maiores que as usadas por Pulguéria:  PULGUÉRIA MAGRELA E BACTÉRIA! – O rapaz também sabia rimar...
Assim,  após quase um ano de paquera quando o “grande amor” finalmente foi declarado, Hilarião e Pulguéria declaravam, em apenas uma tarde, seu ódio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário