Ideias Incríveis!

Ideias Incríveis!

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25 de jul. de 2012

Queimada


Nesses campos tão diversos pelo matiz das cores, o capim,
crescido e ressicado, pelo ardor do sol, transforma-se  em
vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum
tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha
do seu isqueiro.
Minando à surda na touceira queda a vívida centelha. 
Corra daí a instante qualquer aragem, por débil que seja, e
levanta-se a língua de fogo esguia e tremula, como que a 
contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos que diante
dela se abrem. Soprem então as auras com mais força, e de
mil pontos a um tempo rebentam sofregas labaredas que  se 
enroscam umas nas outras, pelos matagais de taquaras , até
esbarrarem de encontro a alguma margem de rio que não 
possam transpor, caso não as tanja para além o vento, ajudando
com valente fôlego a larga obra da destruição.
Aclamado aquele ímpeto por falta de alimento, fica tudo
debaixo de espessa camada de cinzas. O fogo, detido em
pontos, aqui, ali, a consumir com mais lentidão algum estorvo,
vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo,
deixando como sinal da avassaladora passagem o alvacento
lençol, que lhe foi seguindo os velozes passos.
 
 
Através da atmosfera nublada mal pode então coar a luz
do sol. A incineração é completa, o calor intenso, e nos 
ares revoltos volitam palhinhas carboretadas, detritos, argueiros
e grânulos de carvão que redemoinham, sobem, descem e se
emaranham nos sorvedouros e adelgaçadas trombas, 
caprichosamente formadas pelas aragens, ao embaterem umas
de encontro a outras.
                                                             Visconde de Taunay

Visconde de Taunay (Rio de Janeiro, 1843-1899).

 

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