Ideias Incríveis!

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25 de jul. de 2012

Um Cromo - Natureza


Uma laranjeira, numa das faces do sobrado, derramava
ondas de perfume no quarto que olha para o nascente. Do
lado direito, uma porta no muro dava acesso ao pomar,
abrindo quase sobre um rego d'água, abundante, murmuroso,
arrastando em pequenas balsas de folha de embaúba borboletas 
de grandes asas oculadas de azul. A água do rego caía 
coleando os canteiros e lambendo preguiçosamente as raízes
das mangueiras seculares, das laranjeiras em flor.
Debruçada sobre a porta dizente ao pomar uma grande
árvore viçosa, de compridas folhas encarnadas, atraiu um
enxame de besouros, de maribondos e de beija-flôres 
cinzentos, cuja cauda branca abria-se em tesouras. E os 
pequenos seres alados, numa embriaguez de sons e de cores,
banqueteavam-se no leite viscoso da árvore.
No centro do largo pátio, um cavalo escarvava a terra,
dobrando depois os joelhos e espojando-se voluptuosamente,
à  procura de refrigério.
Junto ao muro da frente, velho boi carreiro, de pescoço
alçado, orelhas aprumadas e olhos fitos na lombada do morro
fronteiro, mugia, dolentemente, chorando talvez os companheiros
longínquos, despedindo-se talvez, com esse gemido
selvagem , repassado de angústia, dos campos saudosos de Cana
Brava, onde até então pompeara  a sua independência de filho
dos sertões. Um joão- de- barro, cheio de susto, chamava 
ansiosamente pela companheira, pulando, remexendo-se na porta
de sua casinha, levantada sobre o galho do jenipapeiro, à beira
do curral. A companheira respondia ao longe e continuava a
caçar insetos. Ouvia-se também ao longe o gemido das juritis
num chavascal escuro.  Todos os seres vivos procuravam a
sombra, na hora canicular da sesta. E o sol a pino requeimava 
a terra numa grande inundação de luz.
                                                                Afonso Arinos


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