Ideias Incríveis!

Ideias Incríveis!

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22 de jul. de 2012

Coelho Neto - Noturno


 

Ó, grande noite serena, mãe dos lírios, dá-nos a luz da
tua  lampada suave para que ainda possamos ver esses caminhos
por onde vamos, que dizem ser de lindo aspecto: boeiros de
mármore e todo o leito da estrada de cascalhos de gandarela.  
Vem ao céu, plenilúnio argentino, desabrocha e aclara o nosso itinerário!
Sobre o cimo de um monte o revérbero diáfano aparece:
é o luar, emerge uma aresta aguda e, vagaroso, o crescente
rutila recortando o azul como a lâmina de uma foice.
Linda noite, murmuram. Debruço-me à janela do vagão
olhando a paisagem banhada no alvo e transparente luar...
Abrupto, densas trevas cegam-me, de chôfre range o trem,
solavanca, trepida, estronda, através da espessidão tenebrosa
de um túnel... O luar de novo, montes com grande acúmulos
de sombra e fagulhas que passam no ar frio da noite sossegada.
Ao longe, raro em raro, luzes, choças, de certo cantam
lá dentro modas sertanejas. Que saudades me trazem estas
cabanas pobres!...
Minha terra! Minha terra! Nas campinas do teu sertão é
assim que a gente mora, - uma cabana de palha e o vasto
campo em torno. Entanto, a Felicidade parece que prefere
as choças - raro é o pranto, e o sorriso é o penate rústico.
                                                         Coelho Neto

 


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